quinta-feira, 11 de março de 2010

Outra língua

Primeira vez que não falei Português.

Era assim desde o começo. Queria fazer os outros para de fumar. Hoje já não ligo. Cada um faça o que quiser.
Também, o cara estava internado num asilo, ou como chamava aquilo em frente de casa, um sanatório?
Era um lugar onde, naquela mais fria cidade do Brasil, Lages, Santa Catarina, os doentes de tuberculose iam se tratar.
Lá é frio no verão. No inverno só pra urso e cachorro peludo.

Não sei porque, desde pequenininho, já achava que os ventos podiam trazer os vírus do pessoal que tossia do outro lado da rua.
Em anexo o Hospital Nossa Senhora dos Prazeres. Quando passava do lado de trás, onde ficavam os quartos, evitava respirar de boca aberta.
Neurotiquinho desde pequeninho.

E um dia, o inusitado. Saindo de casa, que ficava em cima de uma fábrica de bebidas do meu tio que teria sido do meu pai (será que foi aí que tudo começou? O gosto pelo vinho, cujo cheiro penetrava as narinas, como aqueles fios zigzagueando nos desenhos animados?) um desses internos do Sanatório, me chama do alto muro do outro lado e pede para ir até onde o muro diminuía.
Não entendi, mas com a curiosidade dos 8 ou 10 anos, fui, sempre guardando a distância para que os vírus/bactérias não me pegassem.

E o cara me estendeu um nota e pediu para ir comprar cigarros na venda da esquina. Isso mesmo, cigarros para o tuberculoso. Deu até a marca. Sem filtro.

De onde veio não sei, como a maioria das coisas que acontecem quando me aperto para resolver. Comecei a enrolar a língua e falar uma coisa esquisita, que eu pretendia fosse uma língua estrangeira.

O cara sentiu que a comunicação estava difícil, viu que eu não sabia português e começou a falar ...cigarretes....cigarrous.... e eu enrolando. Juro que não lembro o que falava, pois ainda não tinha aprendido Esperanto, que anos depois, lá pelos 13 ou 14, deitei e rolei em cima dos incautos, principalmente minha tia, em troca de biscoitos, mas aí fica pra outra. Eu falava Esperanto, estava estudando, mas a tradução eu fazia como queria.

O cara acabou desistindo. Eu me afastei me despedindo no dialeto recém inventado e sem querer, nem saber, acabei contribuindo para a saúde do desconhecido doente que queria fumar. Síndrome da abstinência?

Foi a primeira vez que falei uma língua que não o português. Só que também foi a primeira que nunca soube o que era.
Depois continuei sem saber....

Out/99

Um comentário:

  1. Por falar em língua desconhecida, cê conheceu a língua do "p"? Pois é, até hoje é a única que sei, além da natal. Tô mal de língua né? Tb acho, vou ver o que faço... se não conseguir nada vc me ensina esta aí que até hoje não sabe o que é ou era, é melhor que nada,já te livrou de boa, então tem seventia, kkkk
    Beijokas
    Verinha

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