sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Relações Líquidas

Mais de uma amiga tem reclamado da dificuldade de se encontrar um homem para relacionamento sério. Perguntei a uma o que era um relacionamento sério e ela disse a queima roupa como é do seu feitio. Diretamente, entre sorrisos e revirando os olhos comicamente: Pra casar.

Os sites de relacionamento, cupidos dos tempos de hoje, tem milhares de pessoas buscando o par perfeito ou o match que lhe faça feliz, para dividir os bons momentos, sair pra dançar, visitar amigos e parentes, viajar juntos, namorar ou até criar uma família, pois as idades variam dos 20 aos 60 e tantos anos.

Em outra ocasião, escreverei sobre a faixa de baixo, isto é, dos 20 aos 30 anos, que os motivos podem ser outros.

Existem estatísticas interessantes a respeito das candidatas mais velhas (dos candidatos, ainda não tenho notícias porque não os contactei, mas imagino que não diferencie muito), por exemplo:
55% diminuem a idade nos perfis colocados nos sites.
63% colocam fotos mais antigas, de alguns anos atrás (deve ser pra combinar com a idade anunciada).
41% tiveram ou tem algum grau de depressão e o mais impressionante, 28% tomaram (ou tomam) algum remédio controlado.

Óbviamente os números acima são baseados nos depoimentos das próprias “candidatas”.

Mas vamos ao que nos trouxe aqui:

Tenho a impressão que as pessoas, os homens e a maioria das mulheres, na casa dos 40, 50 ou 60 e que já tiveram relações estáveis e a maioria, casamento mesmo, hoje tem cada vez mais possibilidades de ficarem sós, estimulados pelas lembranças dos traumas de relacionamentos anteriores.
Descontando os inseguros, que acreditam estar a felicidade nos outros ou nas coisas e não nas relações, a maioria está mais seletiva e cuidadosa para não colocar em risco a individualidade tão arduamente conquistada.
As cicatrizes emocionais e as reparações íntimas que cada um teve que fazer, conta na hora de se enquadrar dentro de outra relação.

Claro que a solidão dói. Faz falta dividir um fim de semana com alguém.Uma festa, um jantar, fora ou em casa, feito a quatro mãos. Brindar um tinto excelente descoberto numa promoção. Colocar pimenta na pipoca pra ficar mais excitante. Ouvir a música que tocam e relembram e fazem uma lágrima rolar.

Mas junto com um momento, vem o resto, porque não se vive de e na paixão. A paixão é doença, hipnótica, deliramos e fantasiamos quando somos gratificados por ela. A melhor das drogas.
Mas como todas, tem efeitos colaterais e se viciar então, o pobre adicto nunca mais conhecerá a felicidade, a menos que deite-se por uns tempos no divã, para saber porque não sustenta a possibilidade da relação sanígena e saudável, que é feita de coisas boas e ruins.

E esse resto, desconhecido a princípio, assusta os que querem, mas temem.

Uma amiga me disse: Na próxima relação, após poucos meses vou casar, depois descubro os defeitos dele, porque senão nunca vou encontrar ninguém.
Sábia e doida mulher.
Como dizia Caetano; de perto ninguém é normal.

Por isso, o cuidado de todos em se relacionar. Vou, mas não me jogo, dizia uma paciente.
E aí mora o perigo. Algumas se jogam e não vão, o que também é o prenúncio do caos.

Além da síndrome da loja de doces, onde a criança entra e não sabe o que quer porque queria todos os doces, um grande paradoxo dos nossos tempos é a pessoa não querer se relacionar para ficar livre para poder se relacionar.

É duro saber que pode comer o doce, mas não pode ficar com ele.

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