quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Nós, os Brasileiros!

Porque o mecânico consertou ontem o que não estava quebrado, e cobrou por peças que, depois comprovamos, não foram trocadas, meu carro não funcionou esta manhã ao sair para o trabalho. Voltei, chamei um táxi e desci com a sacola a tiracolo.
Aliás, tenho andado de táxi há uma semana. Cada mecânico conta uma história diferente. E cada motorista de taxi daria uma história diferente.

Talvez pela interação com dezenas de passageiros diferentes toda semana, por ouvirem muito rádio e pelo movimento próprio da profissão, acabam desenvolvendo um senso crítico e articulado sobre quase todos os assuntos.
De uma maneira geral, a grande maioria me parece honesta.

O motorista da volta, de hoje, muito simpático e comunicativo, errou o caminho e ao alertá-lo, tentou virar à direita para fazer um retorno, mas o ônibus que vinha na pista da direita, acelerou e ele teve que continuar no caminho errado até um próximo retorno.

Olhando pelo retrovisor, avisou –“O sacana do motorista do ônibus acelerou pra não deixar eu entrar e parou logo em seguida. Foi só pra sacanear mesmo”.

E começou uma conversa interessante sobre a falta de solidariedade e honestidade das pessoas, que devia começar no trânsito.
Disse que se não ficássemos atentos aos detalhes do dia a dia, o cuidado com os pedestres, deixar as pessoas cruzarem o caminho, dar preferência, etc. não adiantava ficar cobrando grandes gestos, nem de nós mesmos, nem de mais ninguém, família, amigos e até dos políticos em Brasília e outros palácios por aí.

Fiquei impressionado. Concordei com sinais e acreditando que nos revelamos nos pequenos atos e principalmente quando ninguém estiver olhando. Lembrei que alguém disse que ...”reputação é o nosso caráter, menos aquilo que nos pegaram fazendo”.

Então ele pediu desculpas novamente pelo caminho mais longo, dizendo que descontaria na corrida, como de fato quis fazer quando chegamos, mas não deixei e explicou que é muito comum motoristas de táxi se distraírem, principalmente aqueles que trabalham a noite e contou um de seus casos.

Como trabalhava a noite para terminar de pagar a casa, pela manhã, cansado, uma vez foi à Feira de São Joaquim comprar a feira, encontrou um amigo que o convidou para ver duas negras na Ribeira e ficaram tomando todas.
La pelas tantas, cheio do pau, no caminho de casa, bateu no retrovisor de um carro. Derrubou um policial militar da moto e foi parado por uma viatura de policiais civis, que sob armas, pensando que ele havia roubado o táxi, o obrigaram a sair e o colocaram de rosto no chão.
- Eles pensavam que o negão aqui era ladrão e quando viram meus documentos, a feira que eu tinha feito pra minha mulher e o carro da Secretaria de Trânsito confirmou que eu era o proprietário do táxi, se acalmaram e guardaram as armas.
Minha sorte doutor, é que eu tinha R$ 250,00. Dei R$ 150,00 pra polícia e os R$ 100,00 pros caras da SET, que foram levar meu carro em casa, porque acharam que eu não tinha condições. Fui de carona e um deles dirigiu meu carro. Maior mordomia.

E descambou a rir.

Foi quando desci, paguei o que marcava no taxímetro, recusando o desconto pelo erro de trajeto e fui pensando até minha sala.
“Quase que esse cara me engana”.

Ele é mais um daqueles que acha que ser correto, honesto, ter teorias sobre civilidade, responsabilidade, solidariedade e outras “dades”, se aprende em programas de rádio, jornais, livros, mas serve para os outros.
Todos deveriam ser assim. O país seria melhor. Eu até que divulgo, propago e incentivo.
Todos deveriam ser o que parecem, como dizia o bardo inglês.
Até que pratico de vez em quando, mas se houver oportunidade ou necessidade, engano a mulher, atropelo um policial, bato num carro e me evado, suborno os subornáveis servidores públicos e ainda me vanglorio de ter ido com motorista particular pra casa.
No mesmo dia, reparei que a maioria de nós só é honesta porque não tem outra oportunidade.

Somos individualistas, imediatistas e não queremos saber da individualidade alheia.
Farinha pouca, meio pirão primeiro, como se diz no Nordeste.

São desde motoristas que estacionam sobre as calçadas, ou em locais proibidos, interrompendo o trânsito, seja na permissão de vendas de CDs piratas, pela falsificação de carteirinhas de estudante para pagar meias, seja pelo oficial de justiça, que emtroca de algum dinheiro, deixa de citar o réu.
Pode ser o Gerente de banco que avisa o cliente que recebeu uma ordem judicial para executar uma dívida e o instrui a sacar tudo. Pode ser o trabalhador no cartório ou no Fórum que, mediante suborno, esconde, atrasa ou libera os processos.
Ou quem sabe o funcionário do Detran, que na falta do extintor na vistoria do carro, surge com um, cobrando aluguel pelo mesmo. Seria parente do guarda de trânsito ou do policial que, mediante uns dinheiros, deixa o cidadão transgredir a lei?

A rede sobe e alcança o nosso judiciário, o legislativo, o executivo, municipais, dos estados ou lá em Brasília, de onde vem os maiores maus exemplos.

Acho que nós brasileiros pensamos assim mesmo, caso contrário, não estariam onde estão e fazendo o que fazem, os nossos representantes. Meus, seus, deles.

Com as honrosas exceções, somos todos muito parecidos e disso se aproveitam os populistas, mensaleiros, autoridades, marqueteiros, judiciário, legislativo, sociedade civil, e é forjada toda a tolerância de uma nação, que possivelmente absolverá o Presidente do Senado, como corporativamente se absolvem, sabendo nós, para nossa frustração, que um décimo das provas contra ele, em diversos outros países, levaria o acusado à renúncia imediata, provavelmente à cadeia e quem sabe, com um pouco de sorte, até ao suicídio, nem que fosse eleitoral..

07 de Setembro de 2007 – 22:36hrs.

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