segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Was unsterblich im Gesang soll leben,

Was unsterblich im Gesang soll leben,
Mus im Leben untergehen
O que deve viver imortal na canção, tem de perecer na vida – Schiller.

A indignação dos textos que estou recebendo de amigos, conhecidos e até gente que nunca vi, sobre a atual situação da política brasileira e do aparelhamento do Estado, com absoluto silêncio do Judiciário, do Legislativo e das cabeças pensantes que protestaram contra a Ditadura, contra Collor e parecem satisfeitas com o encaminhamento muito possível e próximo para uma República Sindicalista,com aumento e fechamento das benesses à “Nomenklatura” no poder, coincidiu com uma releitura sobre Moisés e o Monoteísmo de Freud, talvez estimulado pela minha recente subida ao Monte Sinai, o Gebel Musa (Montanha de Moisés) dos árabes ou o Serabith El Kadim do beduíno que me guiou numa noite de lua cheia.
Talvez estimulado pela referência à Freud, feita por Lula em um vídeo que recebi recentemente.

Não tenho o poder da síntese e quando releio, mudo sempre. Pode ser longo e sem graça. Ninguém precisa ler. Até porque não sei para o que vai servir. Muitos textos, bem melhores e mais sucintos tem circulado por aqui.

Busco apoio em partes do texto de Freud e transcrevo abaixo


È boa regra no trabalho de análise, contentar-se em explicar o que realmente
está perante nós e não procurar explicar o que não aconteceu.


De qualquer maneira, talvez a atual oposição devesse pensar no que deixou de fazer nesses anos todos que esteve no poder. Deixou de entender, como o PT entendeu tão bem, na matéria prima de que é feita nosso povo.
A oposição ficou na posição defensiva dos esquizo-paranóicos que pensam: Se sou bonzinho e faço tudo certo, o mundo vai me tratar bem.


“...como é possível a um homem isolado desenvolver uma eficácia tão extraordinária para poder formar um povo...a tendência moderna é antes no sentido de fazer remontar os acontecimentos da história humana a fatores mais ocultos, gerais e impessoais, à influência irresistível das condições econômicas, a alterações em hábitos alimentares, a avanços e usos de materiais e ferramentas...os indivíduos, representantes de tendências grupais que estão fadadas a encontrar expressão, e a encontram, nesses indivíduos específicos, em grande parte, por acaso.”

Permitam-me portanto, tomar como certo que um grande homem influencia seus semelhantes por duas maneiras: por sua personalidade e pela idéia que ele apresenta. Essa idéia pode acentuar alguma antiga imagem de desejo das massas, ou apontar um novo objetivo de desejo para elas, ou lançar de algum outro modo seu encantamento sobre as mesmas. Ocasionalmente...a personalidade funciona por si só e a idéia desempenha papel bastante trivial....sabemos que na massa humana existe uma poderosa necessidade de uma autoridade que possa ser admirada, perante quem os curvemos, por quem sejamos dirigidos e, talvez, até maltratados.

E continua Freud.

... trata-se do anseio pelo pai que é sentido por todos...e que a essência
dos grandes homens, pela qual em vão buscamos, reside nessa conformidade. A
decisão de pensamento, a força de vontade, a energia da ação, fazem parte do
retrato do pai – mas, acima de tudo,a autonomia e a independência do grande
homem, sua indiferença divina que pode transformar-se em crueldade.
Tem-se
de admirá-lo, pode-se confiar nele, mas não se pode deixar de temê-lo também.

Credo quia absurdum – Creio porque é absurdo ( Atribuído a Tertuliano).

O que virá por aí depois do plebiscito que referendará Dilma/Lula e o PT/PMDB talvez já no primeiro turno? Tudo o que já está aí, deverá se aprofundar, com algumas cores prevalecendo mais que as outras dentro da briga intestina que se vislumbra entre os partidos de sustentação e dentro do próprio PT com sua colcha de retalhos ideológica, que vai desde os moderados do mensalão, passando pelos coluna do meio com cara de paisagem por não saberem para onde ir (não os critico, no cenário político de hoje, ficou tudo muito parecido, e na dúvida fica-se próximo ao poder) até os radicais de extrema esquerda que parecem personagens saídos de algum livro de Marx ou Engels, brandindo uma retórica do que não deu certo, tomados que estão pela síndrome de Gabriela (eu nasci assim, vou morrer assim...) e que quem tentou sofre para se recuperar das ideologias utópicas e impossíveis.

Riqueza mal distribuída é melhor do que pobreza muito bem distribuída, como ironizou Churchill com Stalin em Ialta.

Se auto intitular o maior presidente que o Brasil já teve parece uma antecipação narcisista do que a história irá avaliar e determinar.
Vargas também pediu ao povo para manter seu legado. Kubistchek deixou exemplos e ainda não teve sua história terminada porque recente demais para se avaliar o impacto no todo, como disse Mao Tse Tung sobre sua enorme China.

Ser o maior por determinação própria, me veio a mente o Faraó Ramsés II, que tratou de eliminar o que os outros fizeram antes dele, fazendo muita propaganda em forma de monumentos, templos e palácios, todos, óbviamente com sua esfígie, substituindo nos 3km que ligam Tebas (atual Luxor) a Karnak, todas as cabeças de carneiro, símbolo divino da época (devem ser centenas), pelas suas imagens, que estão sendo retiradas, embora um pouco tardiamente...
O mesmo Ramsés II, em guerra contra os Hititas da Ásia Menor, teria se rendido (é a versão na Turquia), mas apregoou a todos (versão Egípcia fornecida entre risos) que teria selado o primeiro “pacto de não agressão” do mundo e passou a chamar o Rei Hitita (que me escapa o nome) de irmão.
Lembra algo da nossa política recente? Sir Ney, Renan ou Khollor seriam os nomes do Rei Hitita?

Dentro das espécies, existem sub-espécies, que se reproduzem rapidamente e infestam o organismo governamental em todas as esferas.
A triangulação incestuosa dos Sindicatos que recebem dinheiro do governo, dependem dele e por isso estão calados e os fundos de pensão, podem criar uma superespécie que até quem acha que pode, terá dificuldade em desestruturar.
O próprio Berzoini, na PEC 369/05 do Fórum Nacional do Trabalho, reconhece a necessidade da ...organização sindical livre e autônoma em relação ao Estado.

A pobreza dos debates e a repetição do mesmo (inclusive da oposição) parece ter uma só direção. A continuidade da ação paternal (Freud novamente) do Estado, visando principalmente as massas votantes e pobres do Norte e Nordeste, que ainda não sabem como será feita sua forma de inscrição na sociedade. Existe algum projeto de substituição dos diversos auxílios-bolsa? Programas de qualificação, treinamento, educação, participação ativa e não passiva na comunidade?
Os marqueteiros de ambos os lados falam, via seus candidatos, no mesmo tom monocórdio e monocromático sobre os mesmo assuntos que nunca se resolvem. Segurança, Saúde e Educação. Todos caóticos.

No Nordeste, muitos municípios tem sua principal fonte de renda nas pensões dos aposentados, nos bolsas-família e agora soube de uma bolsa maternidade que é dada às gestantes, equivalente a um e meio salário mínimo e por isso muitas adolescentes estariam engravidando deliberadamente para receber tal benefício, que pode ser um “bom” dinheiro imediato nas regiões paupérrimas e de fome do sertão. O depois fica pra depois, talvez com uma bolsa-qualquer.

Boas coisas foram feitas. FHC (ou Dona Ruth Cardoso) foi o primeiro a ver que existem vários Brasis e tentou, temporariamente acho que era a idéia, ajudar emergencialmente a saciar a fome de uma população que o sul maravilha não conhece, não faz idéia do que seja e ao invés de ter pena ( no que fazem muito bem porque a pena em si não adianta nada), tem desprezo, achando que os famintos, sem água e sem acesso aos mínimos recursos de saúde e oportunidades, fizeram uma escolha pela miséria. Dêem lhes oportunidade de resgatar a dignidade e verão um povo batalhador, alegre, que pouco pede e que quer ficar na sua terra e viver a vida em paz.

O que nos referimos é o caminho que o grande homem, pai dos trabalhadores, o pai da horda (Freud) foi responsável, agindo ou se omitindo, fazendo pactos e conchavos a torto e a direito, até perder o controle do aparelhamento do Estado, com centenas de milhares de “companheiros dos companheiros” (porque Lula não pode ter tantos), sem capacidade de gestão, fazendo com que órgãos, autarquias, secretarias, ministérios, estejam povoadas de gente indicada, quase nunca por competência, pelo único e sagrado motivo de pertencer ao partido, a exemplo da Nomenklatura, de Milovan Djilas, no livro do mesmo nome.

Não quero um pai ou mãe em Brasília, mas dirigentes honestos, que pensem no povo e saibam o que fazer com os altos impostos que pago. Geralmente os Ditadores se proclamam “pais” da nação. Estamos a caminho ou já estamos dentro? (um Congresso com 70% a favor e uma oposição silenciosa/silenciada?)

Sobre isso, ao invés de escrever, faço uso (sem permissão) de parte de um texto do Psicanalista Contardo Calligaris, escrito na Folha de São Paulo em 26 de Agôsto deste ano:

O que me choca é que eleitores possam ser seduzidos pela ideia de serem
cuidados como crianças e preferi-la à de serem governados como adultos.

Se o governo for paternal ou maternal, o que o cidadão espera nunca será exigível,
mas sempre outorgado como um presente concedido por generosidade amorosa; o
vínculo entre cidadão e governo se parecerá com o tragipastelão afetivo da vida
de família: dívidas impagáveis, culpas, ciúme passional etc. Alguém gosta disso?
Tornar-se adulto (por uma psicanálise ou não) é um processo árduo e sempre
inacabado. Por isso mesmo, a quem luta para se manter adulto, qualquer
paternalismo dá calafrios -ou vontade de sair atirando...


Se o Estado é um pai ou uma mãe para mim, eu não tenho deveres, só dívidas amorosas, e, se esse Estado me desrespeita, é que ele me rejeita, que ele trai meu amor.

Por esse caminho, amado ou traído pelo Estado, nunca me considerarei como um entre outros (o que é uma condição básica da vida em sociedade), mas sempre como a menina dos olhos do poder.
Agora, se eu me sentir traído, não me contentarei em mudar
meu voto, mas procurarei vingança no corpo a corpo, quem sabe arma na mão; pois essa é a linguagem da paixão e de suas decepções. O paternalismo, em suma,
semeia violência.


Enfim, se é verdade que muitos prefeririam ser objeto de
cuidados maternos ou paternos a serem "friamente" governados. Pois bem, nesse
caso, a psicanálise ainda tem várias boas décadas de utilidade pública entre
nós.
É uma boa notícia para a psicanálise. Não é uma boa notícia para o
mundo fora dos consultórios

.

Não foi só o PT ter ficado igual a todos a grande decepção. Foi ter ficado pior, querendo silenciar a oposição, a imprensa, se aliar aos párias mais detestados do mundo, governar por decretos e ter entrado num caminho que para retornar ao estado de transparência, divisão e alternância de poderes, terá que rasgar a própria pele. E isso dói. Eles preferem a dor nos outros.

No escrito de Freud, o pai da horda acaba sendo devorado pelos próprios filhos, e pelo que se sabe, apesar de controvérsias, Moisés é morto pelos seus liderados.

Lula pretende voltar em 2014 para mais 8 anos e manter o PT por 20 anos no governo. Terá ele tanta sorte como ele próprio reconhece que teve até agora?
As inúmeras facções internas do PT e PMDB continuarão silenciosas em troco dos polpudos pagamentos feitos para silenciá-los no estilo mensalão sindicalista?

Uma pena. O PT fez as utopias e esperanças desapareceram. Os falsos profetas da moralização do poder público estavam mentindo e colocam a massa para viver de auxílio-eleição.
O simbolismo fica mais concreto e é duro lidar com a realidade sem um pouco de fantasia, que perdemos quando o PT se perdeu.

Genaldo Vargas–

Salvador/Ba,.Setembro de 2010.
fgv@attglobal.net

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